Arcabolso furado

Por maior que seja sua boa vontade e empenho em garantir um mínimo de solidez e equilíbrio em sua gestão, Haddad muito dificilmente irá superar os obstáculos representados por Lula e seu partido. Por mais que se esforce em vender seu peixe de equilíbrio fiscal a pequenos grupos da elite empresarial, não parece possível convencer seu único verdadeiro público: Dom José Inácio Primeiro e Único.

Que, como sabemos, já decretou que gasto é uma desinformação de direita, logo é pecado dizer esse nome em vão. Assim sendo, tudo o que se gaste (ôpa!) para o bem, e tiver fundo social (e o que não tem?), é investimento.

Mais: Haddad tampouco é livre para adotar um teto, que todos nós entendemos o que é – nem âncora fiscal, presente no vocabulário economo-jornalístico desde o Plano Real. Então, surge o arcabouço -um conjunto de regras, ideias, materiais, que envolvem algo. Ou seja, um continente para todo e qualquer conteúdo. Teto é para não deixar subir demais, e âncora é para se manter firme no chão, coisas que, para Dom Lula, é sacrilégio – lesa majestade.

Arcabouço é neutro, aceitável desde que com os necessários furos, que permitiram dispensar o teto, ou seja, um arcabolso furado.

Enquanto promete um arcabouço – e não teto nem âncora – Haddad evita profanar a palavra imperial, enquanto aguarda ser chamado a conhecer o vaticínio majestático. Mas reduz, talvez fatalmente, a oportunidade para convencer o Bando Central de que a inflação alta é a única maneira saudável de promover o crescimento econômico, acabar com a fome, extirpar a miséria, e toda a cantilena do nosso Presidente.

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